Esse é um conto do Lucas de Luca, meu amigo lá de Criciúma, que decidiu fazer um mochilão no Leste Europeu. Primeira viagem na Europa, sempre surge alguns perrengues que podem te abalar. Sabe como é né… nem tudo são flores e problemas fazem parte da viagem. Se você já passou por isso, comente aqui!
Mochilão no Leste Europeu nem sempre é fácil
Você já foi XINGADO por não saber falar tcheco? Eu já. Em outubro de 2018 fiz um mochilão de 25 dias pela Europa Oriental + França. Meu itinerário foi: Paris – Bucareste – Budapeste – Bratislava – Viena – Praga – Cracóvia e Paris novamente, de onde voltei ao Brasil. Para baratear o custo, escolhi fazer algumas das viagens entre as cidades com a Flixbus, uma empresa de merda especializada em viagens de ônibus pela Europa por um baixo custo. E é óbvio que, com o meu histórico de sorte, o ditado “o barato sai caro” apareceria para me dar um chute no saco oi. Essa história começa comigo saindo de Viena com destino a Praga.
Viena é linda, mas é cara
Antes, permitam-me falar um pouquinho a respeito de Viena. A cidade é linda, imponente e CARA. Mas ainda é linda. Conheci pessoas maravilhosas, fiz um walking tour com o guia mais inteligente que já tive NA VIDA e ainda gozei do prazer de visitar uma exposição de um dos meus pintores impressionistas favoritos, Claude Monet, no Museu Albertina, um dos mais importantes museus do mundo! Confira mais dicas de Viena.
Depois de dois dias turistando por essa cidade monumental e de comer algumas salsichas com queijo no pão na Bitzinger Wurstelstand (sério, COMAM ESTA SALSICHA), fui para o ponto de encontro e entrei na fila para guardar minha bagagem quando o ônibus chegou.
Essa salsicha é maravilhosa. (That’s what she said).
O dia em que fui xingado por um motorista de ônibus na Áustria
Entreguei a mochila para o responsável, que também era o motorista. Um homem corpulento, de barba cinza mal feita, cabelo sem cor e uma cara redonda com sinais de quem fuma desde os 2 anos de idade. Ele questionou qual estação de Praga seria meu destino.
Este ônibus pararia em duas: o “Aeroporto” e a “Paha Hlavní Nádraží”. Adivinhem para qual eu iria? Mas é CLARO que na estação com o nome IMPRONUNCIÁVEL. COMO se pronuncia um L depois de um H? E o que DIABOS é um Ž??? Não sei e não queria arriscar. Sou uma pessoa ansiosa metódica e gosto de ter um plano. Então, para evitar confusões, fiz o que achei ser o mais sensato na hora: Peguei o meu celular e mostrei bem grande o nome da estação para ele. Uma solução simples, não é mesmo? Sensato… Certo?
Bem, aparentemente não pois o cara pirou.
“Ué, Lucas… Como assim o cara pirou?”
Pirou…
“Tá, mas pirou como??”
PI-ROU!
O arrombado motorista SURTOU.
Perdeu a cabeça. Teve um chilique. Um ataque de raiva. Uma explosão de ódio. Um siricutico de fúria.
Ele começou a GRITAR comigo, em alemão, na frente de umas 25 pessoas que esperavam na fila. Eu não falo alemão, mas sei que ele estava me xingando porque misturou um inglês rústico no meio da gritaria. Consegui discernir palavras como “idiot” e “stupid” (a qual ele esbravejou umas 3x enquanto batia com a palma da mão na própria testa). E ele não só falava alto. Ele berrava. Como se eu fosse o responsável por torturar uma avó dele e fazer a outra avó assistir.
Então eu congelei.
Não sabia o que fazer e nem conseguia acreditar no que estava acontecendo. Eu não podia perder esse ônibus, portanto preferi não revidar ou reclamar pois tive medo de atrasar toda a viagem. Aí ele pegou a minha mochila e ATIROU para dentro do bagageiro. Mas ele não atirou de maneira casual, como quem devolve uma borracha emprestada pelo amigo. Ele atirou. Com força. Com gosto. Com a malícia de quem tem certeza do que faz. Ele não se importava com os possíveis danos à mochila. Ele queria me magoar. Não só quebrar o que tinha dentro da mochila, mas também o meu espírito. Despedaçar a minha esperança de um mundo melhor. Ou talvez só a esperança de uma viagem tranquila.
De qualquer forma, ele conseguiu. Hoje sinto um pouco de vergonha de dizer, mas naquele dia o filhote de tatuíra motorista conseguiu me atingir onde mais dói. No orgulho. Na alma. Neste momento eu não fiz nada, não falei nada, apenas abaixei a cabeça e entrei no ônibus como um fudido derrotado.
Ninguém que assistiu a cena fez ou disse algo. Não que fosse obrigação delas fazer algo, claro. Mas a verdade é que senti falta de ter alguém ao meu lado. Se não para me consolar, pelo menos para tentar rir da situação. Eu estava sozinho e senti essa solidão. Eu, 28 anos na cara, com um nó na garganta e vontade de chorar por ser xingado em um país distante. Não chorei, mas passei a viagem inteira pensando em maneiras de como destruir a vida do infeliz deixar a tristeza para trás e me vingar focar na próxima cidade: Praga.
E hoje, depois de muito pensar sobre o assunto, possuo dentro de mim uma certeza: A de que quando o motorista era bebê, ao invés de lhe dar um bico, sua mãe lhe calava a boca com um cigarro. Pelo menos é nisso que escolho acreditar.
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