Enquanto estava visitando o Pantheon em Roma conheci o Alex de São Gonçalo (RJ). Fiquei imaginando as dificuldades de um turista cadeirante, os principais obstáculos e se era possível aproveitar de verdade a viagem. Só de olhar o sorriso no rosto descobri que era possível sim! Confira as dicas dele para viajar muito sem limitações e sobre turismo acessível.
Mas o que é Turismo acessível?
Segundo o Números do Censo 2010 (IBGE) 45,6 milhões de brasileiros (23,9% da população) possuem algum tipo de deficiência seja visual, auditiva, motora e mental ou intelectual.
O Ministério do Turismo (Mtur) descreve “acessibilidade” como inclusão da pessoa com deficiência na participação de atividades como o uso de produtos, serviços e informações. Isso implica diretamente na acessibilidade urbana, na “adaptação de atividades turísticas e sensibilização sobre a disseminação de orientações acerca da acessibilidade nos mais diversos setores, direta ou indiretamente ligados à atividade turística.”
Alex e a esposa Lygia.
Os obstáculos de um viajante com deficiência
Segundo o Alex, o mais importante é pesquisar onde vai ficar, se o hotel é acessível, assim como os pontos turísticos, para não perder tempo em deslocamento. Tudo é uma questão de pesquisar bem na internet e ver a logística. Dessa forma não há obstáculos intransponíveis durante a viagem.
A melhor maneira para criar um roteiro é usar o Google Maps para calcular a distância e o tempo de caminhada, visualizar a cidade, a rua e o ponto turístico. O Google Maps permite que você faça uma aproximação, como se estivesse caminhando na rua, então é possível visualizar obstáculos, calçamento e todos os pontos de acesso, podendo assim antecipar possíveis problemas.
Cada pessoa com deficiência tem necessidades especiais diferentes. Uma boa comunicação com o hotel e o maior número de informações sobre o local são tão ou mais importantes que uma rampa em seu trajeto.
Por exemplo: o planejamento do Alex em Roma foi feito em cima de todas as atrações com a menor dependência possível de transporte de qualquer natureza. Por isso ele escolheu um hotel com base no mapa da cidade (no centro), de forma que ficasse mais acessível a tudo, economizando com o transporte. Vale mais a pena gastar com uma boa hospedagem, do que ficar pagando transporte o tempo todo ou em um local onde a acessibilidade não seja plena.
E não é somente na viagem que aparecem obstáculos… até no embarcar há algumas dificuldades, principalmente no avião. Existe sim assentos destinados para deficientess no mapa do avião, mas nem sempre é onde o cadeirante é acomodado.
“É horrível. O avião foi projetado para pessoas sem deficiência motor. No meu caso, como sou tetraplégico, necessito de uma cinta na altura do peito, uma coisa que não existe no assento da aeronave. Se não houver essa cinta, eu preciso me segurar na hora da aterrissagem, pois posso me machucar devido à força G”.
Já na imigração é necessário, em alguns casos, esperar por assistentes para deficiente que encaminham o passageiro para seguir normalmente os processos de entrada no país, acelerando bastante o processo. O cadeirante não passa pelo raio x e sim por uma busca pessoal.
Alguns sites sobre turismo acessível
Accessiblego Aqui você encontra reviews de vários hotéis nos EUA
Turismo Adaptado – blog que reúne diversas informações sobre turismo acessível
Turismo Acessível – app desenvolvido pelo Ministério do Turismo que conta com reviews de lugares feitos pelos próprios usuários
Viajando a Europa como cadeirante
Segundo o Alex, na Itália todos os pontos turísticos são acessíveis (às vezes meio escondidos). Possuem rampa ou um elevador de escada, exceto locais históricos como cúpulas que não possibilitam modificações para o acesso.
Centros históricos são difíceis de andar na rua, devido a pavimentação de pedras (o terror dos cadeirantes diz ele) porém classifica as calçadas como boas. “Na minha opinião a Espanha é o país com mais acessibilidade pois possui a cultura de respeito ao deficiente.”
O cadeirante e seu acompanhante não pagam ingresso e não enfrentam fila em todo ponto turístico na Itália.
Como encontrar um hotel acessível
Um dos problemas na Itália são os prédios antigos e estreitos. Em muitos anúncios de reserva de hotel há a descrição de “possui elevador”, mas eles são pequenos e nada adequados para cadeirantes. Sem contar os banheiros que nem sempre são adaptados.
Por esta razão, é essencial contatar o hotel para melhor descrição do espaço físico. Conferir a largura de porta e a largura do elevador, pois as cadeiras de rodas possuem tamanhos diferentes. Então sempre escolha um hotel melhor, pois tentar poupar em um hotel sem classificação e sem descrição provavelmente dará errado.
Infelizmente a vida de cadeirante é cara. Para ter certeza que não encontrará problema escolha só hotéis a partir de 4 estrelas. Os de 3 pode ser um pouco arriscado.
Um dos exemplos foi o Hotel Califórnia em Florença de quatro estrelas. Neste hotel o Alex teve que pegar um elevador do térreo para a recepção e que só cabia a cadeira de rodas sem mala e o acompanhante. “Como sou tetraplégico, não posso ficar sozinho no elevador. Então minha esposa apertou um botão para subir e fiquei sozinho no elevador, enquanto ela subia as escadas correndo para poder me pegar na recepção. Lá tive que pegar mais dois elevadores diferentes para chegar até o quarto. Resumindo, quatro estrelas e nada acessível, não recomendo.”
Transporte público e o turismo acessível na Europa
Um exemplo interessante que vi seguido lá em Berlim era que os funcionários do metro e ônibus sempre prestavam atenção para ver se havia cadeirantes para o embarque. Aí ajudavam a pessoa no embarque levando itens (como uma estrutura de plástico para evitar o espaço entre estação e metro) ou rebaixando o ônibus (a maioria é adaptada).
Perguntei ao Alex se ele já passou por alguma situação ruim relacionado ao transporte na viagem. Por exemplo: funcionário foi rude e reclamou, o ônibus passou reto pois não era adaptado, trem que recusou embarque…
Ele disse que várias vezes teve problemas com transporte público. O táxi foi o principal, pois se recusou a levar, simplesmente alegando não haver espaço no carro. Sabe que se tratando de cadeirante, ele vai perder tempo, então ele dispensa.
“Quando viajamos sempre optamos por alugar um carro, justamente para evitar dificuldades ou embaraços pela falta de acessibilidade. Outros colegas já tiveram problemas com o trem na Itália. É necessário comunicar sobre a necessidade do auxílio no embarque e desembarque, pois só assim haverá uma pessoa esperando para prestar assistência. Precisa informar os horários de ida e volta, pois se for sem comunicar o retorno, poderá não haver um funcionário na plataforma com o equipamento necessário para o embarque. Aí você fica desamparado numa cidade que não programou para passar a noite.”
Projetos de turismo acessível
Cascais, Lisboa – “Cascais Acessível – Praia para Todos”
Construção de uma rampa até a praia e uma esteira removível sobre areia até a barraca do projeto . Também criaram um equipamento para que as pessoas com mobilidade condicionada possam tomar banho de mar em condições de segurança.
Rio de Janeiro
Graças a Paralimpíada, o Rio de Janeiro se tornou um dos destinos brasileiros mais acessíveis e conta com 100 atrações entre museus e locais históricos com acessibilidade. Um exemplo é o Parque Nacional da Tijuca que disponibiliza passeio inclusivo na natureza no Caminho Dom Pedro Augusto. Ele é adaptado para cadeira de rodas e possui placas que auxiliam pessoas com limitações visuais.
Existe o Projeto Praia para todos em diversas praias do Rio com estruturas para banho e acesso até a água com cadeiras anfíbias.
Em algumas praias existe o projeto Surf Adaptado promovido pela associação sem fins lucrativos ADAPTSURF. O projeto oferece gratuitamente atividades de esporte e lazer adaptados, utilizando cadeiras anfíbias e esteiras para promover
o acesso à praia.
Maceió
Em Maceió existe a jangada acessível na praia de Pajuçara que permite acesso a 2 cadeirantes em suas respectivas cadeiras na Jangada para um passeio nas lagoas.
Alguns projetos de turismo acessível e aventura citados pelo Mtur:
Rio Grande do Sul
A empresa Brasil Rafting oferece passeios adaptados de rafting, caiaque tirolesa adaptados com segurança e conforto para turistas com deficiência.
Bahia
Ativa Rafting e Aventuras oferece rafting a grupos de turistas com mobilidade reduzida e deficiência visual. A equipe possui treinamento especial e infraestrutura adaptada.
São Paulo
Um projeto interessante é a da empresa Expedições Inclusivas que oferece a inclusão reversa a turistas. São expedições no Brasil e no mundo com oficinas e palestras e o objetivo é incluir pessoas não deficientes na realidade daqueles que possuem deficiência física.
Vale a pena ler também
Post muito interessante guria, esse é um público em potencial porém ainda precisamos avançar muito no Brasil e no mundo com relação a acessibilidade. Mas ainda bem que tem turistas como Alex que não se deixam limitar e provocam que seus direitos sejam cumpridos. Muito informativo.
Ah, que post bacana! É preciso estar muito atento a esse tema e cobrar respeito às pessoas com deficiência. Não entendo como até hoje há vários hotéis sem acessibilidade. Lamentável.
Adorei este post. Um aplauso para o casal que não se deixa vencer pelas dificuldades. E que mais estruturas hoteleiras se tornem mais conscientes das necessidades deste público especial.
Esse post é super necessário porque viajar não deve ter limitações. Espero que com o tempo as empresas se sensibilizem com esse fato, como as companhias aéreas para proporcionar uma melhor acessibilidade!
Post essencial porque realmente é um assunto que precisa ser pensado e discutido. Se para viajar para grandes cidades o viajante cadeirante já encontra dificuldade, imagina em lugares mais inóspitos. Mas muito bom saber que existem pessoas que enfrentam a dificuldade e encaram a viagem mesmo assim.
Que post bacana! Adorei o tema e a abordagem. É muito importante colocar esse tipo de assunto em debate. Parabéns pela iniciativa!
Parabéns pelo post! Como blogueiros, damos tantas dicas e tão poucas ajudariam pessoas com mobilidade reduzida. Confesso que só escrevo a respeito quando é algo que destoa: ou acessibilidade fantástica, como deveria ser sempre, ou precária. Recentemente estive no aeroporto da Cidade do México e fotografei o acesso a um dos banheiros: havia uma placa sinalizando sanitário pra deficiente – e pra chegar lá, dois degraus!!!
aff como assim degraus, a galera não tem noção né
Putz, Angie, que postásso! 🙂 Adorei o texto e como você organizou as ideias.
Excelente iniciativa. Parabéns a esse casal corajoso.
Post maravilhoso! Uma prova de que não existem limites para a realização de um sonho. Parabéns pela iniciativa! Que ela possa inspirar muitas pessoas mundo afora!