Todo ano são traficados mais de 2,45 milhões de pessoas e, destas, 1,2 milhões são crianças. O tráfico humano na Europa é mais comum que se imagina. É o terceiro negócio clandestino mais rentável do mundo, atrás apenas de drogas e armas, com lucros de 31.6 bilhões de dólares. Os aliciadores se aproveitam dos sonhos das vítimas e as enganam por meio das mídias sociais.
Neste artigo eu explico como funciona o tráfico humano, dados importantes e como prevenir e não se tornar uma vítima. Sei que muitos tem essa ânsia de morar em outro país, mas precisa ficar com os dois olhos abertos para que esse sonho não se torne um pesadelo. Veja mais no vídeo!
Como funciona o tráfico humano na Europa
Índice do Artigo
Falsas promessas, trabalhos que pagam muito bem e até casamento com alguém bonito e rico. Essas são algumas das abordagens feitas pelos aliciadores através do Facebook, Instagram, apps de idiomas e por aí vai. Normalmente as vítimas são mulheres que sonham em morar em outro país para ter condições melhores de vida.
Como atraem as vítimas
Tudo começa com convites para trabalhar como modelo, secretária, manicure, camareira com salários muito acima da média. Com a conversão em euro para real, as vítimas se surpreendem e acabam tomando o risco. Outras já caem na lábia de homens que dizem apaixonados e querem casar, prometendo vida confortável no exterior.
Normalmente a passagem é paga para a vítima que passa na imigração e entra com visto de turista. Algumas vítimas relatam que os aliciadores compram oficiais da polícia e da imigração. Às vezes já está combinado para que a vítima passe sem problemas.
Ao sair do aeroporto, a vítima é levada para um hotel por um motorista desconhecido e que diz ser amigo do aliciador. Aí os documentos da vítima são retidos, elas são presas em quartos separados e são forçadas a trabalhar para pagar os “custos” da passagem e do “futuro aluguel”. Tornam-se prostitutas. Muitas tentam escapar e outras não conseguem. Se não trabalham, vivem sob ameaça de castigos físicos e morte e também ameaçam a família que ficou no país de origem.
Explico melhor sobre tráfico humano no vídeo abaixo
Divisões do tráfico humano na Europa
A UN.GIFT (Iniciativa Global da ONU contra o Tráfico de Pessoas) estima que 79% dos casos de tráfico humano na Europa são de exploração sexual, 18% trabalhos forçados e o resto é dividido entre venda de órgãos e mendicância. Os países mais comuns são Ucrânia, Russa, Romênia, países asiáticos, Brasil, Argentina…
As vítimas de trabalho forçado são enviadas para trabalhar na indústria têxtil, navios de pesca (onde podem ser jogados no mar caso não trabalhem) e fazendas normais ou de drogas. Segundo este artigo da BBC, o tráfico humano na Europa já atinge várias comunidades rurais e as vítimas estão trabalhando na agricultura, pesca e silvicultura no interior da Escócia.
As crianças são vítimas de exploração sexual, mendicância, venda de artesanato ou até tornam-se soldados de grupos separatistas. Também há registros de tráfico humano de crianças para futebol.
52% dos aliciadores são homens e 42% são mulheres e a cada 800 pessoas traficadas por tráfico humano, apenas 1 aliciador é condenado. Dados retirados deste relatório da UN.GIFT.
Recentemente um traficante britânico foi condenado à prisão por 5 anos e 9 meses no Reino Unido. A mulher que gerenciava o bordel em Cheltenham enganava outras brasileiras que eram obrigadas a trabalharem lá, ela foi multada em £18,000 e obrigada a serviços comunitários.
Por que acontece o tráfico humano
Acontece porque tem demanda. Simples assim.
Essas vítimas vivem em situações de vulnerabilidade como pobreza, violência, guerras, desigualdades sociais, econômicas e de gênero. Muitas vezes os aliciadores são parentes ou conhecidos da família que manipulam a vítima a se mudar para outra cidade e país. pode ser até um conhecido que já está na Europa mentindo sobre uma “vida boa”.
Elas até reconhecem que pode ser perigoso, mas aceitam o risco pela possibilidade de crescimento, de viagens, de aprender uma língua nova. Algumas até levam amigas no esquema sem saber e pensam “estamos em 3 mulheres, o que poderia acontecer?”.
Casos que eu vi durante minhas viagens
E o tráfico humano está mais perto do que você imagina. Vou relatar algumas situações que já vi.
Mulher traficada no busão
Peguei um ônibus Berlim para Copenhagen e uma menina entrou por último bem sorrateira com uma mala enorme. Os motoristas não deixam entrar com essas malas e reinam demais, mas ok. Ela conversava em outra língua com um homem e não sentava ao seu lado.
Quando entramos na Dinamarca, o ônibus parou e a polícia local entrou para verificar os documentos dos passageiros. Essa menina sentava 2 poltronas na minha frente e desta vez estava ao lado do homem. O policial pediu os documentos e ela não tinha. Não tinha passaporte, nem identidade do país, nem passagem. Também não falava inglês e pedia auxílio para o homem para responder as perguntas, ambos eram da Eritreira, um dos países mais pobres da África e que sempre está em guerra.
Nisso o policial perguntou se estavam juntos, o homem negou e que conheceu ela no caminho, lá em Amsterdam. O homem tinha passaporte e passagem. O policial pediu para que ela saísse do ônibus e foi levada para uma salinha. Demorou mais uns 15 min para ele voltar e perguntar mais coisas ao homem que sempre negava envolvimento com ela. Saiu.
Quando o policial voltou, uns 20 minutos depois, perguntou se ele poderia falar em inglês ou em dinamarquês com o homem e deu voz de prisão. “A meia noite e quarenta e três o senhor está sendo preso por tráfico humano“. Ele só respondeu Ok e ambos saíram do ônibus.
Casos no aeroporto
Quando cheguei para morar no Reino Unido, havia um casal bem diferente e que estavam juntos mas não estavam ao mesmo tempo. Ela nem olhava na cara dele, não pegava na mão nem nada. Chegando próximo do oficial da imigração se transformaram: beijinhos, abraços, sorrisinhos e cochichos na orelha. Ela aparentemente era da América Latina e não falava bem inglês. O oficial se “espantou com tanto carinho”, haviam se apaixonado na viagem e que agora iriam conhecer os pais dele na Inglaterra. Passaram enquanto eu tinha que provar que era casada com documento e responder muitas perguntas.
O outro caso foi em Berlim quando uma mulher não sabia o endereço do hotel, não tinha dinheiro, ia ficar 1 noite e depois iria para Amsterdam. Ela sempre estava atenta a um homem que já passado, sempre pedindo respostas e ela falava pouco inglês. Tinha o passaporte da Ucrânia, um dos países com mais incidência de tráfico humano na Europa. Ela passou tranquilamente.
Casos em Bangkok na Tailândia
Várias acomodações em Bangkok possuem anúncios na entrada que não aceitam hóspedes com acompanhantes e quem trazer será multado. No hostel que fiquei, a maioria era homens europeus. Vi vários deles andando de mãos dadas com locais, normalmente muito novos, talvez nem tivessem 18 anos.
O tráfico humano é bem antigo
Muita gente acha que o tráfico humano é de agora, mas as origens datam de 4 mil anos antes de Cristo. As civilizações vencedoras tomavam a civilização perdedora como escravos. Acredita-se que 1 a cada 3 pessoas eram escravas no Império Romano. A partir do século 13, o tráfico de pessoas era a principal fonte de renda de vários impérios: inglês, dinamarquês, português, espanhol, francês, holandês que transportavam pessoas da África para todas as colônias para vendê-las. Isso durou 400 anos.
Somente no século 20 que começaram a proibir o tráfico de humanos e foi reconhecido como crime contra a humanidade em 1998. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime trabalha em três frentes de ação contra o tráfico humano: prevenção, proteção e criminalização.
Subnotificações
O tráfico humano é subnotificado principalmente porque as vítimas tem medo de falar sobre os aliciadores. Como foram ameaçadas fisicamente e psicologicamente, elas temem pela própria vida e pela vida de membros da família. Não confiam em mais ninguém pois foram enganadas por muito tempo. Não confiam nem na polícia.
Muitas tem medo da polícia pois podem ser deportadas como imigrantes ilegais e não ser reconhecidas como vítimas do tráfico. Esse é um dos medos que os aliciadores relembram todos dos dias durante o cativeiro.
Outras tem perda de memória causada pelo trauma, não sabem onde moram, endereço de onde trabalham, não respondem por conta própria e nam falam o idioma local.
Como não se tornar vítima do tráfico humano na Europa
É muito importante não confiar em ninguém que oferece trabalhos que pagam muito acima da média em outro país, mesmo que sejam da família. Você precisa conhecer muito bem essa pessoa e durante anos para pensar nessa possibilidade.
Se for esse o caso, procure informações no Google e no Linkedin sobre a empresa, veja se o endereço existe no Google Maps e confira as fotos do local. Veja se os telefones batem e faça uma ligação para confirmar.
Peça para alguém analisar o contrato com você, alguém entendido da área, como um advogado por exemplo.
Deixe com sua família os contatos e endereços da empresa, consulado local, polícia e ONGs da cidade que irá morar. Mantenha sempre contato com sua família.
Não entregue seus documentos e nem cópias para ninguém.
Não acreditar em histórias fáceis e desconfie sempre de gringo. Não deixe o amor te cegar. Eles agem no Instagram, Facebook, app de idiomas…. estão por todo lugar procurando vítimas.
Não venha ilegal, a burocracia é complicada, mas te evita muitos problemas. O lado mais fácil não vale a pena. Leia mais sobre Morar ilegal na Europa: o menor dos problemas é a deportação.
Confira as 10 cidades mais perigosas da Europa.
Espero que esse artigo tenha te ajudado a abrir os olhos. Compartilhe.